Operação Leite Compen$ado descobriu esquema de fraude na Dielat, empresa gaúcha que comercializava produtos para diversas cidades do Brasil e da Venezuela
A empresa envolvida na Operação Leite Compen$ado, acusada de utilizar produtos vencidos, soda cáustica e água oxigenada na fabricação de seus produtos, é a Dielat. O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) manteve o nome em sigilo por decisão judicial. A informação é da rádio CBN.
Em seu site oficial, a Dielat se apresenta como uma “empresa familiar” que busca “produzir produtos de qualidade, inovando para e atendendo toda a legislação onde a segurança alimentar.”
No entanto, ainda segundo apuração da CBN, esta não é a primeira vez que a empresa é punida por falhas nos protocolos de biossegurança. Somente nos últimos dois anos, a Dielat recebeu 16 sanções do Ministério da Agricultura, com interdições de instalações, suspensões de atividades e autuações por fraude de registros e embaraço à fiscalização.
Na operação realizada na última quarta-feira (11), os oficiais encontraram produtos vencidos que seriam utilizados na fabricação dos alimentos, além de “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.
Vale lembrar que o consumo de leite fora validade já oferece risco à saúde e pode causar intoxicação provocada por diferentes bactérias, como a salmonela, por exemplo. Porém, a presença destas substâncias na bebida é ainda mais preocupante, uma vez que são são altamente tóxicas e possuem, inclusive, potencial carcinogênico.
Conheça a Dielat, empresa envolvida na Operação Leite Compen$ado
Sediada em Taquara, a 80 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Dielat Indústria e Comércio de Laticínios atua desde 15 de junho de 2016 no mercado. Em 2018, passou por uma restruturação interna e hoje conta com cerca de 75 colaboradores.
Com produtos distribuídos em todo o Brasil e também na Venezuela, com as marcas Mega Milk, Cootall, Mega Lac e Tentação. Além do leite longa vida, a empresa também possui em seu catálogo leite em pó, soro de leite em pó e opções de compostos lácteos, utilizados como substituto do leite em preparos culinários.
Para o varejo, a empresa comercializa o leite em pó integral e o longa vida nas versões integral, desnatado e semidesnatado da marca Mega Milk. É possível encontrar na internet uma caixa com doze unidades de um litro sendo vendida a R$ 40,68.
Os compostos lácteos da Mega Lac e da Tentação, além do varejo, também eram destinados a empresas do setor “food service”. Em seu site, a Dielat diz desenvolver “produtos práticos e versáteis, para restaurantes, pizzarias, sorveterias, cozinhas industriais, padarias e confeitarias, lanchonetes, hotéis, escolas, redes de fast food, hospitais e órgãos governamentais”.
A terceira linha, focada na indústria de alimentos, tem itens da marca Cootall, o composto lácteo da Tentação em outra embalagem, e novas versões do composto lácteo da Mega Lac, o Especiale, o Premium, o Mix, o Tradicionale e o Pop.
A fábrica também oferecia um serviço personalizado para produzir lácteos de “pequenas e médias empresas” que buscassem “eliminar elos na cadeia produtiva, aumentar a sua margem de lucro e repassar uma parte da economia ao consumidor, oferecendo produto com excelência”. A Dietlat não informa quantos e quais clientes utilizam sua fábrica atualmente.
A operação Leite Compen$ado
Na ação realizada no último dia 11, ocorrida quase 12 anos depois da primeira fase da operação, foram encontradas as fórmulas de diluição nas empresas, além de uma série de documentos, imagens e planilhas falsificadas que comprovam o esquema de fraude.
Na sede, também foram descobertos dois depósitos clandestinos, onde eram armazenados produtos vencidos, estragados e de uso proibido na fabricação do leite.
Uma mulher, que não teve seu nome divulgado, foi presa em flagrante por orientar que os funcionários apagassem mensagens e escondessem seus celulares após a chegada dos oficiais. O sócio-proprietário Antonio Ricardo Sader, o diretor Tales Laurindo, o supervisor Gustavo Lauck e o químico Sérgio Alberto Seewald cumprem prisão preventiva.
Apelidado de “Alquimista” e “Mago do Leite”, Seewald já esteve envolvido em casos semelhantes no passado. Em 2005, ele chegou a ser condenado e absolvido em segunda instância. Em 2014, durante a quinta fase da Operação Leite Compen$ado, foi acusado de ser o responsável pela fórmula química utilizada para mascarar a adulteração de produtos de uma indústria do município de Imigrante, no Vale do Taquari.
O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, explicou que o químico estava proibido de atuar no setor desde 2014, por uma medida cautelar, e há dois anos aguarda a colocação de uma tornozeleira eletrônica. “Hoje nós conseguimos alcançar outras provas que corroboram com os indicativos da prática criminosa”, garantiu o promotor.
A reportagem entrou em contato com a Dielat, mas não obteve retorno até o momento.
Fonte: Globo Rural / Izabel Gimenez