Tipos de queijos e técnicas de produção multiplicaram-se nos séculos XIX e XX, com a chegada de levas de europeus ao Brasil
Foi na Capitania de Pernambuco, que se estendia pela área em que hoje ficam os territórios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Alagoas, além de parte da Bahia, que, no século XVI, começou a produção de queijo no Brasil. Foram os portugueses que trouxeram a novidade à então colônia.
A produção começou com os queijos coalho e de manteiga. A partir do fim do século XVII, durante o Ciclo da Mineração, produzir queijos tornou-se uma atividade estratégica: com ela, tornou-se possível conservar o leite cru, o que ajudou a ampliar a oferta de alimento à população, que crescia de forma acelerada. A produção do queijo minas artesanal teve origem nessa fase.
Os tipos e técnicas de produção de queijo multiplicaram-se nos séculos XIX e XX, quando muitos imigrantes europeus chegaram ao Brasil. “Os imigrantes dessa época não eram queijeiros, mas faziam o produto como em seus países de origem”, relata Antonio Fernandes, professor de tecnologia de alimentos na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e presidente da Guilde Queijeiros do Brasil, embaixada brasileira da Guilde Internationale des Fromagers, organização global que reúne toda a cadeia. Variedades como os queijos serrano e kochkäse (ambas de Santa Catarina), colonial (Rio Grande do Sul) e queijos do reino e prato (Minas Gerais) surgiram nessa época.
A marca dos dinamarqueses
Entre o fim do século XIX e o início do século XX, o Brasil recebeu levas de imigrantes dinamarqueses, em grupos que tinham produtores de queijo. O desembarque desses profissionais foi o marco do início da produção industrial no país.
A primeira fábrica, a Companhia de Laticínios, foi instalada em Palmyra, que é hoje o município de Santos Dumont (MG), em 1888. “O queijo danbo foi o que inspirou a produção, mas, no Brasil, os queijeiros misturaram um pouco da técnica dinamarquesa com a holandesa”, observa Fernandes.
A industrialização da produção de queijos intensificou-se no país no século XX, e a produção artesanal acabou ficando em segundo plano. Mas, no início deste século, o mercado passou a viver uma nova transformação. Seguindo uma tendência consolidada na Europa, grandes chefs de cozinha intensificaram a utilização de queijos artesanais, produtos que apresentam o terroir específico de cada região.
“Cresceu a valorização do queijo artesanal, que passou a ser reconhecido por ser um produto autoral, autêntico, original, histórico, entre outras qualidades”, conta Fernandes. “Agora, esses produtores buscam conhecimentos na academia e fazem inovações nos queijos artesanais”.
Reconhecimento internacional
Esse movimento fez crescer o número de premiações do produto nacional. Nas edições do concurso francês Mondial du Fromage, o Brasil levou 12 medalhas em 2017, 59 no ano seguinte, 57 em 2021 e 84 em 2023. Já na premiação itinerante World Cheese Awards, os queijos brasileiros conquistaram 14 medalhas em 2021, 15 na edição do ano seguinte e 23 em 2023. No ano passado, quando o país levou seis medalhas no prêmio, o queijo Passionata, que nasceu no parque tecnológico Biopark, em Toledo (PR), ficou em nono lugar no ranking geral.
Outro marco da evolução do status dos produtos nacionais foi o reconhecimento do queijo minas artesanal como patrimônio cultural imaterial da humanidade, avalia José Ricardo Ozólio, presidente da Associação Mineira do Queijo Artesanal (Amiqueijo). A Agência das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), responsável pela chancela, anunciou a decisão em dezembro do ano passado.
“A gente sente a cada ano a melhoria da qualidade dos queijos nacionais”, afirma Ozólio. “Do lado da produção, vemos um resgate das receitas familiares, com filhos voltando das cidades para morar em seus locais de origem e produzir queijos artesanais, além de novas famílias começando a se dedicar à atividade”, conclui.
Fonte: Globo Rural