Tecnologia, saúde animal e produção sustentável estão entre as ações adotadas nas propriedades
Há 10 anos, Fernanda Bacelar deixou a bem sucedida trajetória de publicitária para se tornar pecuarista, à frente da fazenda da família em Arapoti (PR). “Deixei a carreira de comunicação e marketing e montei do zero uma produção leiteira. O foco que eu tinha no mundo corporativo em gestão, em trabalhar com eficiência, trouxe para o dia a dia do negócio”, afirma Fernanda, vencedora do Prêmio Qualidade do Leite 2025, na categoria acima de 15.001 litros/dia. A premiação foi realizada pela Capal Cooperativa Agroindustrial durante a Expoleite, no início deste mês.
Com produção diária de 17.000 litros de leite por dia, Fernanda conta que a mentalidade do mundo empresarial a ajudou a alcançar altas produtividades e atuar com sustentabilidade. A propriedade possui cerca de 450 animais em produção e o free stall, com ordenha mecanizada em uma linha média de 12 conjuntos, é o sistema de manejo adotado na fazenda.
“Hoje em dia, produzir só leite não basta. A gente tem que produzir um alimento de qualidade com respeito aos animais, ao meio ambiente e aos funcionários. A gente foca em energias renováveis, como reuso de água e reutilização de insumos, e na integração lavoura-pecuária a fim de ter uma produção sustentável, de longo prazo, para atender o mercado”, considera.
A produtora também destaca a atenção com os indicadores de qualidade do leite produzido – e que foram avaliados na premiação -, que atestam a sanidade do rebanho, a higiene na ordenha, a composição físico-química e a ausência de resíduos. E salienta: “a qualidade do processo é imprescindível, porque trabalhar com a produção de leite é uma grande responsabilidade, é preciso estar atento para poder oferecer o melhor alimento com segurança para o consumidor”.
Qualidade para queijos
Na propriedade de Elsbeth Cornelia Verburg, em Arapoti, a busca pela eficiência na produção do leite também é primordial. Ela foi a vencedora do Prêmio Qualidade do Leite 2025 da Capal, na categoria 4.001 a 6.000 litros/dia. “Essa busca partiu da necessidade de fazer um queijo de qualidade na queijaria da família. Para isso, buscamos recursos e investimos bastante, e os resultados vieram rapidamente”, conta a produtora.
A propriedade tem aproximadamente 115 vacas em lactação, produzindo uma média de 4.000 litros de leite por dia. Para a queijaria, são direcionados 4.000 litros de leite por mês para serem transformados em queijos tipo Gouda. Entre os investimentos apontados por Elsbeth está a adoção dos sistemas para confinamento de gado leiteiro free stall e compost barn, além da ordenha mecanizada.
Com formação em medicina veterinária, a produtora prioriza ainda a saúde animal, com foco principal em manter saudáveis os úberes das vacas. “Trabalhamos com a vacina autógena, que é direcionada para meus animais, e isso faz toda a diferença, pois consigo combater os principais desafios que surgem na propriedade”, explica. As vacinas autógenas são produzidas a partir de agentes patogênicos isolados de um rebanho específico, visando proteger esse mesmo rebanho contra doenças prevalentes na criação.
Alta produtividade
As principais regiões de abrangência de produtores de leite cooperados à Capal incluem o Norte Pioneiro, onde está situado o município de Arapoti, e os Campos Gerais. Valter Galan, sócio da MilkPoint Ventures, que foi um dos palestrantes da Expoleite, observa que essas importantes regiões produtoras do país se destacam pela tecnologia e alta produtividade.
“Em uma área bem pequena, se produz em torno de 3 milhões de litros de leite por dia nessa região, onde se tem um indicador de densidade de coleta de leite de 150 litros, 170 litros por quilômetro rodado, que é semelhante ao da Nova Zelândia, que é o maior exportador do mundo”, aponta.
Galan avalia ainda que a região se adapta muito bem às nuances do mercado e exemplifica isso com a tendência do confinamento no sistema de criação do gado leiteiro. “Os compost barn e free stall estão tomando conta. Isso, em algum momento, vai mudar a sazonalidade e a dinâmica de produção de leite no Brasil, junto com outra mudança que é o aumento da importância do Sul do país no abastecimento total do mercado”, acredita.
Para ele, os altos índices de produtividade de leite na região já demonstram isso. “Enquanto um produtor brasileiro médio produz em torno de 600 litros a 700 litros por dia, aqui na região, o médio produtor produz entre 4.000 a 5.000 litros/dia”, acrescenta.
Esse perfil de produtor, com foco em tecnologia e alta produtividade, na visão de Fernanda Bacelar, reflete um momento de transformação no setor: “só vai conseguir sobreviver nesse mercado quem realmente investir em eficiência e qualidade, conseguir controlar os seus gastos e melhorar a sua rentabilidade”. Elsbeth também aponta os desafios para os produtores.
“O mercado de leite é volátil, a gente está sempre à mercê de vários fatores. O produtor de leite é um guerreiro, que luta com margens baixas. Por isso, temos que fazer o melhor da porteira para dentro, sermos eficientes e trabalhar”, ensina.
A cooperativa realizou a premiação Qualidade do Leite em sete categorias divididas pelo volume de produção.
Fonte: Globo Rural