“O setor lácteo indiano apresenta um contraste único e marcante com as indústrias de laticínios dos países desenvolvidos”
Destacando o modelo cooperativo que contribuiu enormemente para levar a Índia a ser o maior produtor mundial de leite, o presidente da Milma, KS Mani, fez um forte apelo durante a Cúpula Mundial do Leite em Paris (IDF World Dairy Summit 2024-WDS2024), a favor da adoção de práticas sustentáveis e inteligentes para converter em oportunidades, os desafios globais enfrentados pelo o setor lácteo.
Shri Mani, que também é diretor da Federação Nacional das Cooperativas Leiteiras da Índia (NCDFI), foi o único representante dos produtores de leite indianos durante a cúpula realizada de 15 a 18 de outubro organizada pela Federação Internacional do Leite (FIL/IDF).
O presidente do Comitê Nacional de Desenvolvimento do Leite (NDDB), Shri Meenesh C Shah, esteve entre os representantes da Índia durante a WDS2024 que assumiu importância estratégica, considerando os desafios críticos diante dos quais encontra-se o setor lácteo mundial, dentre eles, as mudanças climáticas, a elevação dos custos dos insumos de produção e o esgotamento dos recursos naturais.
Falando sobre o cenário leiteiro indiano durante uma mesa redonda de agricultores no dia 14 de outubro, antes do início da WDS2024, Shri Mani declarou que o setor lácteo do seu país promete um vasto potencial de exportação, em particular de produtos de maior valor agregado.
Ainda que as novas explorações agrícolas indianas possam ser confrontadas com certos desafios decorrentes de problemas tais como as mudanças climáticas, e o enorme mercado interno, o potencial de exportação apresenta oportunidades significativas para maior crescimento e êxito, afirmou.
A exportação de produtos lácteos com valor agregado deve ser acelerada, aproveitando os incentivos governamentais como o Fundo de Desenvolvimento de Infraestrutura e Transformação Láctea (DIDF), podendo chegar a novos mercados como os do Sudeste Asiático, Oriente Médio e América Latina, acrescentou ele.
A falta de mão-de-obra e de soluções tecnológicas, as mudanças climáticas e a sustentabilidade, assim como oportunidades e desafios dentro do setor lácteo, foram temas centrais das discussões durante a reunião, havendo convergência entre os atores do setor lácteo do mundo inteiro.
Ainda que a falta de mão-de-obra não seja um problema tão grande na Índia em relação aos países desenvolvidos, ele é importante para atrair jovens agricultores e trabalhadores qualificados para manter o crescimento, declarou Shri Mani, presidente da Kerala Cooperative Milk Marketing Federation (KCMMF).
Os pequenos agricultores na Índia, que representam perto de 80% da produção de leite do país, começaram a adotar automatização e ferramentas digitais para reduzir a demanda de mão-de-obra, declarou Mani.
Embora as mudanças climáticas representem desafios também para o setor lácteo da Índia, as pequenas propriedades agrícolas começaram a adotar práticas sustentáveis para enfrentar estas questões e continuar apoiando os meios de subsistência rurais.
“O sistema de alimentação animal na Índia é particularmente sustentável porque utiliza resíduos agrícolas. Ao transformar materiais, que de outra forma seriam descartados, o sistema melhora a eficiência dos recursos naturais e minimiza o desperdício”, declarou Shri Mani, que possui uma vasta experiência prática tanto como agricultor, como empresário e como cooperado.
O modelo cooperativo adotado pela Índia, que dá prioridade ao bem-estar dos agricultores, contribui grandemente para a emergência do país como o maior produtor e consumidor de leite do mundo, declarou ele.
Com um plantel de 536,76 milhões de animais, a produção de leite da Índia está atualmente em torno de 321 milhões de toneladas por ano, ou seja, de 24 a 25% da produção mundial. A disponibilidade per capita de leite na Índia é cerca de 450 gramas por dia, ultrapassando a média mundial que é de 322 gramas por dia, deixando evidente a eficiência do sistema leiteiro dirigido pelos pequenos produtores.
“O setor lácteo indiano apresenta um contraste único e marcante com as indústrias de laticínios dos países desenvolvidos, onde dominam as operações comerciais em grande escala e empresas com fins lucrativos. Na Índia, o setor lácteo é uma fonte essencial de renda para milhões de pessoas, encarnando um modelo de crescimento inclusivo e de capacitação comunitária”, destacou Mani, defensor de longa data do movimento das cooperativo leiteiro.
Com 28 federações leiteiras nacionais e 240 uniões cooperativas distritais, o modelo cooperativo do setor lácteo indiano garante que os pequenos produtores recebam preços justos pelo seu leite, eliminado assim a exploração e promovendo o crescimento sustentável. Esta abordagem permitiu um crescimento anual de 6% na produção de leite na última década, ultrapassando em muito a taxa global de 2%.
“Nossa rede cooperativa abrange 230.000 vilas, atendendo diretamente 80 milhões de agricultores que garante distribuição equitativa da renda. As mulheres têm um papel importante dentro do setor lácteo indiano e 35% delas estão ativamente envolvidas com as cooperativas. Existem 48.000 cooperativas de laticínios dirigidas por mulheres ao nível das
vilas, permitindo que elas tenham acesso à independência financeira e reforcem o desenvolvimento rural”, sublinhou Mani.
“Nossa apresentação sobre o cenário leiteiro indiano, que foca em redes cooperativas de agricultores e práticas sustentáveis, um modelo centrado no ser humano e orientado para a subsistência, foi muito apreciada pelos delegados da cúpula”, acrescentou Mani.
Participaram da reunião atores da indústria, representantes de agricultores, altos funcionários de governo e representantes de agências de desenvolvimento de laticínios de todo o mundo.
Fonte: : Agriculture Times [traduzido]