Elevação de custos de produção e esmagamento das margens em 2022/23 afastou produtores pequenos e médios que estavam investindo e não tiveram retorno financeiro
“Estamos mudando o perfil do produtor de leite no Brasil. Este processo já vinha acontecendo, e essa crise em 2022 e 2023 só aumentou a velocidade”, explica o pesquisador da Embrapa, Paulo do Carmo Martins. De acordo com ele, desde 2013 a produção de leite no Brasil não aumentou, e o leite que antes era produzido por pequenos e médios pecuaristas e que saíram da atividade, foi substituído pelo grande produtor, em um movimento de concentração da produção.
“Isso aumentou a velocidade porque você investe e precisa de receita, e a receita não chegou. Essa turma saiu, e o grande, por outro lado, percebeu muito claramente que aumentar a produção reduz o custo unitário de produção. De 2009 a 2022, os 100 maiores produtores de leite no país aumentaram em 1,5 milhão de litros de leite por dia em sua oferta. Mas quando se vê a produção brasileira, ela não cresceu. O que isso significa? O que os pequenos que saíram foram substituídos pelos grandes”, afirma, Martins.
Com custos de produção elevados nos últimos anos, principalmente relacionados à nutrição dos animais, e rentabilidade mais baixa para o produtor, as margens ficaram esmagadas.
Natália Grigol, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), reforça que, apesar da falta de estatísticas atualizadas sobre a saída de produtores de leite da atividade, “quando se vê os números da produção de leite a gente vê uma tendência de concentração do tipo de produtores”.
O presidente da comissão técnica de leite do Sistema Faemg Senar (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e vice-presidente da comissão de leite da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Jonadan Ma, explica que quem produz até 200 litros de leite por dia no Brasil , considerados ‘pequenos’, são 93% dos estabelecimentos no país. Dentro desta categoria da pequena produção, 49% do leite produzido no país vem destas fazendas.
Segundo o presidente da comissão técnica de leite do Sistema Faemg Senar (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e vice-presidente da comissão de leite da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Jonadan Ma, há dez anos consecutivos a produção leiteira no país está estagnada. “Cresceu até 2012, e de 2013 a 2023 ‘estacionou’ a produção de leite. O fechamento de 2023 deve manter ou ter leve declínio na produção.”
Jonadan Ma detalha que este fenômeno que foi acelerado no Brasil devido à crise no setor leiteiro não é algo inédito e nem recente, já que atinge outros países há algum tempo. O especialista traz dados da Embrapa Gado de Leite e do Sistema Faemg/Senar, apontando que, no Brasil, em 2000 havia 1,605 milhão de propriedades produtoras de leite, e em 2021, caiu para 1,130 milhão.
Para a pesquisadora do Cepea, Natalia Grigol, é um desafio mundial trabalhar com os custos em elevação, e a tendência global é de que a produção de leite cresça a passos mais lentos neste ano de 2024. O Brasil, segundo ela, tem uma prospecção de aumento de 1,5% este ano.
Fonte: Notícias Agrícolas (adaptado)