Relatório britânico debate o apoio aos produtores de leite na transição para sistemas mais éticos
No Reino Unido, a responsabilidade recai amplamente sobre os ombros de todas as partes interessadas no setor agroalimentar, mas algumas têm um papel mais importante a desempenhar.
O relatório foi publicado pelo Food Ethics Council, um laboratório de ideias britânico especializado em questões alimentares éticas e sustentabilidade em alimentos e agricultura.
O documento é resultado de um projeto de dois anos que envolveu workshops e conversas entre o think tank e as partes interessadas do setor de lácteos, incluindo compradores de leite, processadores e varejistas, com foco na compreensão das aspirações dos produtores e das barreiras à transição para sistemas agrícolas considerados mais éticos.
O relatório compartilha ações que podem apoiar essa mudança em toda a cadeia de valor, com foco principal em processadores e varejistas, que são vistos como tendo a maior influência sobre o assunto.
Durante o projeto, o laboratório de ideias identificou a tensão de equilibrar a administração de um negócio lucrativo com as responsabilidades para com o meio ambiente, o bem-estar dos animais e o próprio bem-estar dos produtores como a principal barreira para a mudança.
De acordo com Tesni Clare, da organização, muitos produtores “sentem-se presos em um sistema que os recompensa pela produção baseada em volume, em vez de produtos baseados em valor, criados de acordo com seus valores — e os da sociedade”.
“Pensamos nisso como uma esteira rolante”, dsse ela. “Ao longo do tempo, os produtores de leite tiveram que investir em infraestrutura para acompanhar o ritmo que o setor exige deles.
“Estamos agora em uma situação em que muitos produtores gostariam de fazer mudanças na forma como produzem, mas estão financeiramente presos a grandes dívidas e ativos potencialmente irrecuperáveis.”
Os produtores de leite há muito tempo operam com margens de lucro estreitas. No entanto, possibilitar a transição para sistemas agrícolas diferentes exigiria a ação de toda a cadeia agroalimentar, desde os processadores e varejistas até os consumidores e o governo.
“É necessário incentivar a agricultura que respeita a natureza com um mercado garantido e preços justos e, ao mesmo tempo, apoiar financeiramente os produtores durante a fase de transição”, explicou Clare. “Mesmo que os produtores possam fazer um negócio lucrativo com práticas mais ecológicas, é preciso flexibilidade na fase de transição provisória. Essa é uma barreira significativa para a mudança no momento.”
Clare ressaltou ainda que, por trás de todos esses desafios, há “um profundo desequilíbrio de poder — possibilitado por contratos injustos — entre produtores, processadores e varejistas, o que leva a uma falta de confiança, comunicação deficiente e uma distribuição desproporcional de riscos pelo setor”.
O relatório do Food Ethics Council está disponível (em inglês) no site da organização.
Fonte: Dairy Reporter (traduzido e adaptado pela equipe Lacteus)