Kraft Heinz, Lactalis USA, Nestlé, Danone, Grupo Bel e General Mills, com receitas combinadas de US$ 200 bilhões, criam aliança climática global
Seis das maiores empresas de laticínios lançaram nesta terça-feira (5), na COP 28, em Dubai, uma aliança inédita para reduzir as emissões de metano. O metano, um gás de efeito estufa altamente potente, pode aquecer o planeta até 27 vezes mais rápido do que outros gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono. As seis empresas que anunciaram a aliança são Kraft Heinz, Lactalis USA, Nestlé, Danone, Grupo Bel e General Mills. Juntas, essas empresas representam US$ 200 bilhões (R$ 980 bilhões) em receitas e processam alimentos que chegam a quase todos os lares do planeta. O anúncio das empresas de laticínios é um divisor de águas nos esforços globais para enfrentar o aquecimento global. Sendo esta a primeira vez que entidades do setor agrícola, especificamente empresas de laticínios, se comprometem coletivamente a combater as emissões de metano.
Para garantir uma maior responsabilização por este anúncio, é portanto essencial que todas as principais partes interessadas – incluindo governos e investidores – supervisionem e façam cumprir ativamente estes compromissos.
Ação para governos – Os governos devem refletir com ousadia a redução do metano proveniente da agricultura nos seus novos planos e compromissos nacionais em matéria de clima. Quase 151 países, dos 193 que assinaram o Acordo de Paris, que estabelece a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius até 2050 – por meio das NDC (Contribuições Determinadas Nacionalmente, na sigla em inglês). Estas NDC podem ser vistas como planos de ação nacionais. Há perspectiva de que os países definam novas contribuições revistas dentro de dois anos. Estas deverão refletir a ambição de reduzir as emissões de metano provenientes da agricultura. Países como os Estados Unidos, que fazem parte do Compromisso Global para o Metano, deveriam, em particular, refletir esta ambição.
Ação para investidores – No mercado, investidores com ações ou qualquer outra participação nestas empresas têm um papel fundamental em responsabilizá-las pela monitorização e relatórios periódicos. Devem aproveitar a interação com as empresas, por meio de iniciativas de envolvimento para verificar a existência de greenwashing, o que significa compromissos ousados assumidos sem qualquer ação ou evidência. A Iniciativa FAIRR, uma rede colaborativa de investidores que aumenta a conscientização sobre os riscos e oportunidades ambientais, sociais e de governança (ESG) no setor alimentar global, analisou as emissões de 60 dos maiores produtores de gado e descobriu que apenas duas dessas empresas estabeleceram metas para reduzir as emissões de metano. Definir metas claras e mensuráveis é crucial; sem elas, é como atirar no escuro – os esforços podem ser bem-intencionados, mas carecem de direção e impacto.
Agora, parece que a aliança leiteira se concentrará na medição e na elaboração de relatórios, mas sem estabelecer metas específicas, mas isto pode não ser suficientemente motivador. À medida que se caminha para uma era de maior consciência ambiental, o compromisso destes gigantes do leite oferece um vislumbre de esperança e um modelo a ser seguido por outros. Em particular, é crucial que outras empresas com elevadas emissões de metano, como os principais produtores de carne bovina, reconheçam a importância de estabelecer metas claras para reduzir as suas emissões de metano. A “revolução dos laticínios” pode inspirar alianças semelhantes na indústria, espalhando uma onda de mudanças ambientais positivas.
Fonte: Forbes Agro (adaptado)