Em São Paulo, o custo médio do produto foi de R$ 5,09 na segunda quinzena de outubro, com variação anual de -19,7%
Enquanto produtores de leite lamentam a redução no preço pago pelo produto – com a quinta queda mensal consecutiva -, o consumidor pode comemorar a queda do preço nas prateleiras do supermercado.
Na cidade de São Paulo, o leite longa vida integral no varejo estava custando, em média, R$ 5,09 na segunda quinzena de outubro. O valor representa queda mensal de 1,1% e variação anual de -19,7%, segundo dados levantados pela Scot Consultoria.
“A redução vem sendo registrada desde a primeira quinzena de junho e acontecido principalmente pela demanda, que segue fragilizada, uma vez que a população continua carente de capital”, avalia Juliana Pila, zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria.
A especialista também cita o aumento da oferta, gerada devido às importações, como um dos fatores para a queda do preço do produto. Ela lembra que no período de entressafra houve um aumento substancial nas importações feitas no Brasil, gerando um excedente de oferta do produto.
Como o leite chega às prateleiras?
A cadeia do leite começa na propriedade rural, que envia o produto para o laticínio, setor responsável pela industrialização do produto, fabricando o leite UHT, a manteiga e outros derivados. Este, vende os alimentos para o varejo, chegando até o consumidor final.
Juliana ressalta que a queda no atacado foi maior do que no varejo, nos últimos 13 meses, com variação de 1% de queda na comparação mensal do primeiro (atacado) e queda de 0,5% na comparação mensal do segundo (varejo).
Mais sobre leite
Na primeira quinzena de outubro, o preço do leite longa vida integral no varejo ficou, em média, em R$ 5,08, variação quinzenal de 0,2%. Já na segunda quinzena de setembro, o mesmo produto custou R$ 5,15 ao consumidor final de São Paulo, com variação mensal de -1,1%.
Juliana acredita que o panorama, até o fim do ano, indica que a produção tende a crescer com o período de safra, aumentando a oferta de leite no mercado. Por outro lado, a analista ressalta que o fim do ano não é um período favorável para consumo de leite UHT.
“No período de férias, as pessoas dão preferência a sucos, costumam acordar mais tarde e pular o café da manhã”, observa. Já para produtos de maior valor agregado como queijos, o período é favorável, uma vez que o 13º salário impulsiona as vendas do segmento.
Queda em Ponta Grossa
A queda no preço do leite também é verificada em outras regiões do país. Em Ponta Grossa (PR), cidade próxima a Castro, uma das maiores bacias leiteiras do país, também vem sendo registrada redução no valor do leite.
Segundo Alexandre Roberto Lages, economista da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e coordenador do Índice da Cesta Básica no município, o leite, que faz parte do grupo alimentação geral na pesquisa, vem registrando redução no preço desde junho, quando houve queda de 5,06%.
No último balanço, divulgado em setembro, a queda foi de 7,99%, com o leite longa vida sendo comercializado a um preço médio de R$ 4,53 na cidade.
Já no índice de outubro, que está sendo fechado hoje (8/11), mas ainda não foi divulgado, o leite está entre os produtos que registraram queda.
A pesquisa acompanha os preços de produtos de alimentação, higiene e limpeza nos sistemas de delivery dos supermercados de Ponta Grossa, utilizando como base a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). Os produtos compõem o consumo básico de famílias com, em média, três membros e renda de um a cinco salários mínimos.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado em 26 de outubro pelo IBGE, o leite longa vida está entre os dez produtos alimentícios com maiores quedas no preço médio em 12 meses, registrando variação de -17,1% no país.
Queda do preço ao produtor
Na outra ponta está o produtor de leite, que vem enfrentando um cenário com preços menores pagos pelo produto.
Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP mostra que o valor médio mensal do leite cru captado por laticínios registrou a quinta queda consecutiva. De agosto para setembro, a baixa foi de 9,08%, indo para R$ 2,0509 o litro na “Média Brasil” líquida.
Em um ano (de setembro de 2022 para setembro de 2023), o recuo é de expressivos 31,54%, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de setembro de 2023).
Segundo o Cepea, a redução nos preços pagos ao produtor, que teve início em maio, continua sendo explicada pelo aumento da disponibilidade interna de lácteos, devido ao avanço da captação nacional, às importações de lácteos ainda elevadas e ao consumo interno muito sensível ao preço.
Com isso, a pressão dos canais de distribuição nas negociações com os laticínios têm mantido em queda os preços dos derivados lácteos, e esse movimento vem sendo repassado ao produtor.
Produtores desmotivados
Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, essa nova queda no preço pago aos produtores “está sendo desastrosa para a classe produtora de leite”. Segundo ele, os produtores estão extremamente desmotivados, trabalhando praticamente sem nenhuma margem e muitos no vermelho. “Isso tem gerado o abandono da atividade”, afirma.
Borges ainda destaca as importações de leite do Mercosul, que classifica como “predatórias” e “danosas”. “As importações aumentaram em outubro, comparado com setembro deste ano, o que vem provocando desajustes no setor leiteiro, prejudicando pequenos, médios e grandes produtores, cooperativas e laticínios”. E completa: “não dá para nossa cadeia produtiva do leite competir com países que subsidiam seus produtores, como é o caso da Argentina. É uma concorrência desleal e o governo brasileiro precisa agir urgentemente”.
Fonte: Globo Rural / Carolina Mainardes